ATAQUES DE PÂNICO

“A primeira vez que aconteceu eu ia na rua e comecei com um aperto no peito… uma coisa horrível, nem sei explicar. Pensei que morria. Fui às urgências, fizeram-me exames, e disseram-me que eu não tinha nada. Nada, quer dizer, nada de físico. Disseram-me que tinha sido um ataque de pânico. Agora, ando sempre com medo que volte a acontecer.”

O que é um ataque de pânico?

A ansiedade é frequentemente caracterizada por um conjunto de sintomas físicos: tensão muscular, batimento cardíaco acelerado, aumento do ritmo respiratório, dor de cabeça, náuseas e vómitos, sudação… Durante um ataque de pânico, a pessoa experiencia estes sintomas físicos de forma exacerbada: pode sentir dores e tremuras, o coração “disparado”, sensação de falta de fôlego e de “aperto” no peito, “formigueiros”, tonturas e sensação de desmaio ou de “irrealidade”… O ataque de pânico é acompanhado por pensamentos assustadores, sobre a eminência de desmaiar, enlouquecer, ou mesmo morrer. Compreensivelmente, a pessoa sente-se descontrolada, encurralada, aterrorizada. Os ataques de pânico acontecem e atingem o seu pico rapidamente, durando normalmente entre 5 a 20 minutos.

Medo do medo.

Nos ataques de pânico, o medo dos sintomas de ansiedade acaba por exacerbar ou desencadear esses mesmos sintomas. Assim, o pânico é o medo do medo. Perante os sintomas de ansiedade (tensão muscular, batimento cardíaco acelerado, aumento do ritmo respiratório…), a pessoa interpreta-os como significando que há algo de errado consigo, (“vou desmaiar/ enlouquecer / morrer…”). Estes pensamentos aumentam a ansiedade e, portanto, levam à produção de ainda mais sintomas… e assim sucessivamente. Além disso, o primeiro ataque de pânico é, geralmente, uma experiência muito intensa. A partir desse momento, os sintomas de ansiedade ficam associados à experiência do ataque de pânico. De cada vez que estes sintomas ocorrem, são associados ao ataque de pânico, o que aumenta a ansiedade e, portanto, a probabilidade de o ataque de pânico ocorrer. Até a possibilidade de experienciar estes sintomas pode trazer tanta ansiedade que causa, por si só, um ataque de pânico. Em alguns casos o medo de experienciar um novo ataque de pânico é constante e condiciona fortemente a vida da pessoa (ela evita determinados sítios ou atividades, procura estar sempre acompanhada, etc…)

Os ataque de pânico parecem surgir “do nada”.

Por trás da ocorrência abrupta e aparentemente inexplicável dos ataques de pânico podem existir vários motivos. Em alguns casos, a pessoa vive habitualmente sob elevados níveis de ansiedade que resultam na produção quase contínua dos sintomas referidos. Em outros casos, a pessoa, por um hábito que aprendeu e sem que dele se aperceba, tem tendência a respirar um pouco depressa demais (hiperventilação subtil) e isto também pode produzir os sintomas. Outras pessoas, ainda que experienciando sensações que são comuns a outras pessoas (podendo ocorrer depois de a pessoa ter feito exercício físico, depois de ter bebido café, por estar num sítio quente, etc) tendem a prestar uma maior atenção a estas sensações. Dos sintomas de ansiedade ao pânico vai o caminho anteriormente descrito… que pode ser feito de forma relativamente rápida.

Os ataques de pânico não são perigosos.

O medo é uma resposta biológica normal, concebida pela natureza para ajudar o indivíduo. Ele é uma resposta a uma ameaça iminente (real ou percecionada) que prepara o indivíduo para a ação, permitindo que este tenha uma de duas respostas: atacar ou fugir. Os sintomas de ansiedade são da responsabilidade do Sistema Nervoso Simpático, e traduzem, no fundo, esta preparação do organismo para a ação – a tensão muscular (que conduz às sensações de dores e tremuras) visa prepara os músculos para o movimento; o aumento do ritmo cardíaco (que conduz à sensação de ter o “coração disparado) serve para aumentar o fluxo sanguíneo, o aumento do ritmo respiratório (que conduz às sensações de falta de fôlego e de “aperto” no peito) serve para levar mais oxigénio até aos tecidos, e assim sucessivamente… Como o Sistema Nervoso Simpático funciona em termos de tudo-ou-nada, estes sintomas tendem a aparecer em conjunto. Muito importante é notar que estes sintomas não são perigosos! Afinal, não faria sentido que a natureza criasse um mecanismo cujo objetivo é proteger o organismo e que, ao fazê-lo, prejudicasse esse mesmo organismo!...A reinstalação do estado “normal” é feita pelo Sistema Nervoso Parassimpático. Devido à sua atuação, a ansiedade não continua para sempre, nem aumenta até níveis muito elevados e, possivelmente, prejudiciais!...

Lidar com os ataques de pânico.

Os ataques de pânico são algo com que é difícil a pessoa lidar sozinha. Contudo, existem intervenções eficazes, que podem ser implementadas com o apoio de um terapeuta. Num primeiro momento, pretende-se construir em conjunto com a pessoa uma explicação dos sintomas que lhes dê um sentido, e que permita estabelecer um plano para a intervenção. Dada a importância dos sintomas de ansiedade na base do pânico, a intervenção incide a este nível, procurando reduzi-la para um nível em que se torne mais fácil de gerir. Isto é feito através da aprendizagem e prática de procedimentos de respiração e de relaxamento . Também são focadas as interpretações que a pessoa faz destes sintomas (“vou desmaiar/ enlouquecer / morrer…”). Estas são identificadas e analisadas à luz de informação objetiva (sobre o que efetivamente acontece durante um ataque de pânico e, por exemplo, as diferenças de um ataque de pânico relativamente a um ataque cardíaco, ou um surto psicótico).